Cinco anos após o lançamento de Nas profundezas desses olhos rasos (2020), o poeta e jornalista maranhense Félix Alberto Lima retorna à cena literária com o livro Com o coração na boca, publicado pela editora 7Letras. A obra será lançada nesta sexta-feira, 26 de setembro, às 19h30, no Caçarola Bistrô – Rua de Nazareth e Odylo, nº 200, Centro Histórico de São Luís – dentro da programação do Sarau Vinil & Poesia, evento idealizado pela jornalista e DJ Vanessa Serra. No dia 30, o autor leva a nova obra ao Rio de Janeiro, em sessão de autógrafos na Livraria Janela.
O livro, que conta com prefácio do poeta Fernando Abreu, encerra uma trilogia iniciada com Filarmônica para fones de ouvido (2018) e seguida de Nas profundezas desses olhos rasos. Essa sequência, observa a crítica, pode ser lida como uma investigação poética dos sentidos: primeiro a escuta, depois o olhar e, agora, a boca, entendida como fronteira entre corpo e mundo.
Com mais de 80 poemas, Com o coração na boca apresenta uma arquitetura interna de ritmos e pulsos variados, alternando poemas longos e densos com textos mínimos, quase sentenças. Versos como ‘toda boca é um porto’ (em Verbete) e ‘só a boca / subverte o fonema’ (em Culta) apontam para essa dimensão da boca como geografia de travessia, de caos, de fome e de resistência.
A linguagem do livro oscila entre lirismo intenso e brutalidade seca, explorando tensões entre fragilidade e resistência. Em ‘Anatomia de um tiro’, por exemplo, o poeta escreve: ‘no olho da bala / ainda há meninos dançando ciranda’. Já em ‘Da boca pra fora’, um medo difuso e insólito emerge. O coloquial e o metafórico se entrelaçam em ritmo que remete, em certos momentos, a improvisações de jazz.
São Luís perpassa a obra como cenário afetivo e desolado, povoado de becos, quintais e fantasmas. Nela se afirma a ambivalência de pertença e exílio, refletida no tom da poesia. ‘A boca é também a boca do tempo, da história e da resistência’, escreve o autor, que propõe uma poesia sem o consolo da serenidade, mas que busca o desassossego, capaz de tumultuar rotinas e retinas.
O autor explica a origem do título: “andar com o coração na boca é viver sobressaltado diante do mundo, como se cada esquina guardasse um susto, uma revelação ou um abismo. Para mim, será sempre espanto – aquele mesmo espanto de que fala Ferreira Gullar: a poesia surge do tumulto, desse impacto diante da vida, e não de serenidades inspiradas”.
Entre o medo e a vertigem, entre a fome e o verbo, Com o coração na boca confirma a fidelidade do poeta a um estado de alerta permanente — um modo de estar no mundo e, sobretudo, na palavra.
A noite promete gratas surpresas, grandes e improváveis encontros.
Sarau Vinil & Poesia

O Sarau Vinil & Poesia volta a ocupar o coração do Centro Histórico de São Luís com mais uma edição repleta de ideias, sonoridades e afetos. A proposta é simples e essencial: celebrar a arte, o encontro e a escuta.
Idealizado pela jornalista, DJ e pesquisadora Vanessa Serra, o Sarau surgiu em 2019 com a proposta de entrelaçar música e poesia sob o calor da agulha no vinil, exaltando, sobretudo, a riqueza de compositores e letristas maranhenses.
Durante a pandemia, seguiu em edições virtuais, e consolidou-se como espaço de celebração artística, tendo lançado em 2020 seu próprio disco: o LP Vinil & Poesia – Volume 1, reconhecido com o Prêmio Papete. Ao longo de suas edições, o Sarau já contou com a participação de notáveis nomes da cena cultural maranhense, entre poetas, cantores e compositores, como Lúcia Santos, Gerude, Ronald Pinheiro, Maria Spíndola, Mestre Josias Sobrinho, Dicy, Fernando Abreu, entre outros.



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